Não ao Novo Aeroporto de Lisboa (NAL): há alternativas desperdiçadas e um planeta a cuidar

Introdução:
Há 54 anos que se estuda o Novo Aeroporto de Lisboa (NAL), o que constitui uma saga a que muitos dos assinantes desta petição, bem como muitos decisores políticos, não conheceram o início. Décadas depois e com muitos milhões gastos em estudos, não há ainda conclusões. Temos porém actualmente uma situação cada vez mais urgente à escala global, as alterações climáticas, que já se fazem sentir, mas precisamos de limitar. Sem dúvida que a aviação é necessária, mas Portugal tem outros meios pelo que dizemos: não queremos um novo aeroporto !

Fundamentos
Estamos cientes de que a aviação representa negócios, representa turismo, representa aspectos de justiça social e de ligação (intercontinental) entre pessoas.
Sabemos que a Portela está esgotada e que o aeroporto no centro da cidade representa má qualidade de vida para muitos habitantes.
Mas estamos também cientes que em 2023 é urgente limitar as alterações climáticas. Se a aviação fosse um país, seria o sexto com maior volume de emissões com gases com efeito de estufa (GEE). Entre 2005 e 2019, o numero de passageiros aerotransportados mais que duplicou, o tráfego aéreo cresceu e com ele as emissões de GEE e, se nada mudar, espera-se que aumentem mais 35% até 2050, o que não é surpreendente pois um avião emite 100 vezes mais GEE por hora que um comboio.
Um novo aeroporto seria seguramente desenhado para receber ainda mais voos cada dia !

Destacamos que actualmente, em Portugal, para efeito de inventariação nacional de emissões de GEE, apenas são contabilizadas as emissões associadas aos trajetos domésticos, omitindo o peso total das emissões de GEE nos trajetos de ou para Portugal. De acordo com dados da plataforma Airport Tracker da Federação Europeia de Transportes e Ambiente, a aviação em Portugal, considerando apenas voos num sentido (e não ida e volta), representou 7,1% do total das emissões de gases com efeitos de estufa do país, ou 4,75 milhões de toneladas de GEE em 2018 (grande parte correpondente a voos dentro da Europa). Um estudo recente estima um crescimento de emissões até 2035 e conclui que só mediante desenvolvimento tecnológico de combustíveis e com limitação do crescimento dos passageiros, a aviação pode ser compatível com o cumprimento da meta da União Europeia de neutralidade carbónica em 2050 (3 de 4 cenários desenvolvidos pelo estudo não atingem a meta e apenas um se aproxima).

Estamos pois cientes de que mesmo que a obra do NAL ainda demore a começar e, uma vez iniciada no terreno, se prolongue por 10-15 anos, isto não será suficiente para que a utilização dos chamados combustíveis “renováveis” ou “sustentáveis” compense as tendências de aumento de passageiros e emissões, até porque a contabilização da totalidade de emissões GEE da aviação em Portugal leva a valores muito mais altos do que os valores oficiais actuais, como aludimos acima.
Além disso, sabemos que o adjectivo “sustentáveis” aplicado aos combustíveis é demasiado optimista, dado que para os produzir é preciso energia e recursos, nomeadamente água doce que tanto escasseia e sacrificar árvores e outros cobertos vegetais que absorvem carbono, promovem biodiversidade e constituem barreiras contra a desertificação.
A construção de um novo aeroporto, por si só, também envolve grandes emissões de GEE, pela produção de materiais e seu transporte, pelas actividades de construção, para não falar de que será uma obra considerada de "interesse publico" e, como tal, poderá atropelar à vontade outras componentes ambientais como biodiversidade e barreiras contra a desertificação, como temos visto.
Há alternativas: limitar o tráfego aéreo e substitui-lo por formas menos danosas para as pessoas e o ambiente (há países que já proibem voos internos com alternativa ferroviária), e, em paralelo, consciencializar os passageiros do impacto climático de cada viagem.

Proposta:
Propomos que, alternativamente à construção do NAL se distribua melhor o tráfego aéreo, que se encarregue especialistas e responsáveis de encontrar soluções com a infraestrutura e meios que já existem em vários locais do país e que actualmente estão desperdiçados.
Propomos que se evite o enorme esforço financeiro por trás do NAL e consequente favorecimento de uma indústria que já goza benefícios fiscais e sobre a qual as limitações de emissões de GEE tardam tanto como a propria definição do NAL.
Propomos que, em alternativa ao NAL, se invista na ferrovia, no ordenamento do território, nomeadamente na contenção da malha urbana e na sustentabilidade dos espaços não urbanos, na gestão eficiente da água (reserva, preservação e usos) e que se prepare o país para as alterações climáticas, como o inexorável avanço do mar e a intensidade e frequência de fenómenos extremos como secas, cheias, fogos incontroláveis, etc.

Pedimos responsabilidade aos responsáveis políticos!
Pedimos que não sacrifiquem o amanhã por ganhos mesquinhos hoje. Não sigamos os passos do G20 recusando-nos a fazer tudo o que tem de ser feito para evitar o futuro sombrio, para o qual tudo indica que nos encaminhamos.
Comecemos a trabalhar por um futuro melhor, agora !!!


Referencias:
https://news.mongabay.com/2022/04/how-much-does-air-travel-warm-the-planet-new-study-gives-a-figure/
https://apambiente.pt/sites/default/files/_Clima/Inventarios/20230404/NIR202315%20April.pdf,
https://airporttracker.org
https://run.unl.pt/bitstream/10362/150509/1/Filho_2022.pdf
https://expresso.pt/economia/transportes/2023-05-25-Franca-toma-medida-inedita-e-proibe-alguns-voos-internos-por-causa-das-alteracoes-climaticas-5d7aaa9b
https://coastal.climatecentral.org/map/8/-8.6172/38.3708/?theme=sea_level_rise&map_type=coastal_dem_comparison&basemap=roadmap&contiguous=true&elevation_model=best_available&forecast_year=2050&pathway=rcp45&percentile=p50&return_level=return_level_1&rl_model=gtsr&slr_model=kopp_2014
https://apambiente.pt/clima/aviacao

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