Anta e Guetim dizem não ao traçado da linha Alta Velocidade Porto-Lisboa
Para: Assembleia da República
Após serem analisadas todas as alternativas de traçados apresentados para consulta pública do Estudo de Impacto Ambiental da Linha de Alta Velocidade (LAV) Porto-Lisboa, facilmente constatamos que todas elas têm um preço demasiado alto para as freguesias de Anta e Guetim, já bastante cortadas por grandes infraestruturas nacionais, como as autoestradas A29 e A41, que reduziram a área útil das freguesias.
Os traçados propostos, (A, B e variante Vila Nova de Gaia) põem em causa a qualidade de vida dos antenses e guetinenses, pelo que trazem fortes impactos a nível ambiental, social e económico.
A nível ambiental, os traçados A e variante Vila Nova de Gaia (aqueles cuja aprovação se diz ser mais provável) irão destruir o Parque da Picadela, uma grande mancha verde na região, conhecida e catalogada pela sua rica diversidade de flora e fauna com espécies únicas, espaço vibrante, de fruição livre e pedagógica. Ora isto ganha ainda mais importância quando estamos a falar de uma zona fortemente urbanizada, que tem em Guetim, nomeadamente na zona da Picadela, um refúgio natural, sendo um dos principais atrativos da freguesia. A passagem da LAV colocará em causa toda a configuração da paisagem e do próprio território. Já em Anta, será afetada a ribeira da Gaiteira e a ribeira de Silvalde, assim como a zona do Peso, que também oferece um raro contacto da população com a natureza, que será perdido pela passagem da linha férrea e da construção de um gigantesco viaduto, criando uma ferida eterna no equilíbrio paisagístico da freguesia.
A nível social, ambos os traçados irão colocar em causa espaços que se configuram como a raiz da cultura antense e guetinense, como a Pedra do Gato, o marco da Picadela e o Largo e a Capela dos Altos-Céus. A isto junta-se o deslocamento forçado da população, que apresenta um alto índice de envelhecimento e que sempre viveu no território, desenvolvendo ligações afetivas com a comunidade. A demolição de 5 (variante Vila Nova de Gaia) até 42 habitações (traçado B) representa um grande golpe nos laços comunitários existentes, principalmente em Guetim, a freguesia mais pequena do concelho de Espinho, cujos impactos, em termos proporcionais com outras freguesias, são devastadores.
Também a nível económico os traçados propostos terão um impacto extremamente negativo em Anta e Guetim, uma vez que levam a uma grande desvalorização do território e perda de valor imobiliário, que está fortemente associada à matriz pacífica e mais rural destes locais, numa região bastante urbanizada. Aqueles que têm a "sorte" de não verem as suas casas e terrenos afetados terão de conviver com "paredes meias", ruídos e vibrações e/ou paisagens de muros de betão. A completa desconfiguração da paisagem irá deixar marcas profundas, comprometendo o plano estratégico municipal (PDM) para a união de freguesias, destruindo equipamentos desportivos e ainda gerando uma divisão física na comunidade, fragmentando o território e dificultando a interação social, a participação cívica e a manutenção das tradições e dos costumes locais.
Por essa razão, a presente petição serve para manifestar o profundo descontentamento e discordância da população de Anta e Guetim com as soluções de traçados propostos para a LAV na freguesia, apelando às entidades políticas que desloquem o traçado mais para nascente, onde existem corredores menos ocupados territorialmente por habitações, parques e linhas de água. Um processo desta envergadura é político e não técnico, pelo que é a "pólis", a população, que se deve sobrepor em qualquer decisão.
Sendo que a não concretização desta LAV é ainda uma possibilidade, ou, a concretizar, ainda será possível a apresentação de outros traçados, exige-se que se procurem outras alternativas a nascente, ocupando terrenos desocupados, que respeitem o ambiente, a comunidade local e os princípios do desenvolvimento sustentável.
Nós, cidadãos abaixo assinados, repudiamos, inequivocamente, nos moldes apresentados, as intenções do Governo em relação ao traçado da Linha de Alta Velocidade entre Porto e Lisboa (Fase 1) Troço Porto/Soure - Troço A, que assenta sobre uma realidade de há mais de uma década e não na realidade vivida. Esta posição está cimentada pela aprovação unânime em Assembleia de Freguesia da moção “Anta e Guetim contra os dois traçados da Linha de Alta Velocidade”.
