Petição O Homem não se alimenta só de pão
Para: Presidente da Assembleia da República
Exma. Senhora Presidente da Assembleia da República
Cada vez que uma companhia de teatro desaparece, é Mozart que assassinam, podia ter dito Saint-Exupéry. Virá a cidade de Évora a ser o local dessa acção criminosa? O CENDREV apresenta a peça Café Mário, que homenageia o seu fundador Mário Barradas, mentor da descentralização teatral em Portugal e, durante 35 anos, figura eminente da cidade. No mesmo momento em que a sobrevivência da companhia se torna mais e mais problemática: como se a diminuição de 23% do apoio do Estado não bastasse, a Câmara Municipal ainda não cumpriu os seus compromissos dos apoios relativos a 2009 e 2010 e está pronta para cortar 60% em 2011. Que acontecerá em 2012? Que empresa de serviço público poderia continuar a funcionar nestas condições, sem poder pagar os salários dos seus trabalhadores, sem poder comprar os materiais necessários à construção do cenário e à fabricação da roupa do espectáculo em cena?
Num período de crise igual ao que vivemos, muita gente pensa que a arte vem depois do emprego, que só tem utilidade em tempo de vacas gordas. É esquecer que o Homem não se alimenta só de pão, que alimentar o cérebro é tão indispensável como encher a barriga, sobretudo nos tempos de trevas.
Como se pode ficar indiferente à história deste teatro e da companhia nele residente; ao trabalho de educação popular desempenhado em benefício de várias gerações de cidadãos de Évora; ao enraizamento profundo através do Alentejo inteiro ; à irradiação nacional e internacional alcançada graças a produções brilhantes e inovadoras?
Está a cidade de Évora, honorada pela UNESCO, florão do nosso património nacional, pronta para assumir o triste privilégio na Europa de restituir o poder ao obscurantismo? Deixarão os responsáveis desaparecer um colectivo de mulheres e de homens mestres na sua arte, apaixonados e dedicados ao bem público? Que será do Teatro Garcia de Resende, que Mário Barradas, em Janeiro de 1975, tirou do lixo para o devolver à sua vocação artística?
Lembremos aos responsáveis a palavra de Camões : «Quem não sabe arte, não na estima».
Nós, cidadãos de Évora, do Alentejo e do país, amadores de bom Teatro, e estrangeiros que também conhecemos e ouvimos falar da imensa qualidade artística desta companhia, não queremos que se perpetre esta má accão e pedimos instantemente a quem de direito que faça o que é necessário para o impedir.